quinta-feira, 31 de julho de 2014

UNIDADE DO REINO

“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.” Salmos 133:1


A unidade é um dos princípios mais fundamentais do Reino de Deus, o próprio Jesus nos ensinou que um reino dividido não subsiste. Tal unidade se observa desde a doutrina da Trindade, onde três Pessoas uníssonas (Pai, Filho e Espírito Santo) formam um único Deus ao ideal divino de constituir um povo santo para si nesta Terra. 

Os princípios bíblicos sempre se pautaram no respeito aos povos, fraternidade e amor. No Antigo Testamento, por exemplo, mesmo sob a lógica cultural e histórica da guerra os estrangeiros e peregrinos deveriam ser recebidos com dignidade em Israel e caso estes quisessem, poderiam, inclusive, ser acolhidos como parte da família, do corpo e da nação, ainda que não tendo sangue judaico.

O Criador fez o ser humano como um ser sociável, um ser fraterno capaz de se unir aos seus semelhantes seja através do casamento, da família ou das relações sociais. Viver em Comunidade possibilita inúmeros benefícios ao homem, passando desde sua sobrevivência ao seu desenvolvimento intelectual, emocional e espiritual.

Com o surgimento de Israel Jeová passou a guiar e orientar seu povo para uma busca de unidade. Israel junto seria mais que um povo, seria uma grande nação harmonizada e preparada para vencer qualquer inimigo, onde suas principais estratégias seriam o interesse comum e a força coletiva na busca incessante do Poder de Deus.

É importante salientar também que apesar de amar a unidade, Deus respeita as limitações e as particularidades de cada homem. Jeová nos fez indivíduos, porque cada um de nós tem a qualidade de ser inconfundível, especial e único. Dentro da unidade Deus respeita a diversidade, e talvez seja por esse e outros motivos que a estrutura de Israel foi organizada em 12 tribos.

Cada tribo teria sua liderança, suas próprias especificidades, suas terras, sua autonomia ... Contudo, mesmo diante de diferenças acessórias, as tribos deveriam sempre estar unidas em uma fé conjunta. Caso o povo falhasse todo Israel seria prejudicado, mas se o povo decidisse obedecer a Lei de Deus eles continuariam fortes e juntos na terra.

Infelizmente, durante o Governo de Roboão a poderosa Nação de Israel se dividiu em dois reinos, norte (Israel) cuja capital era Samaria e Sul (Judá) cuja capital era Jerusalém. Essa quebra de paradigma foi desastrosa para o povo, a desunião os levou ao cativeiro Assírio e Babilônico, os levou à diáspora gerada pelos romanos e nazistas. Israel só volta a se unir como nação em 1948 após a segunda guerra mundial, porém essa unicidade política não veio com uma união espiritual, e as consequências nós vemos até hoje.

No Novo Testamento Jesus Cristo trouxe uma nova concepção de Nação, difundindo a proposta de um Reino Eterno e Espiritual onde judeus e gentios partilhariam de uma união universal, todos adorariam ao único Deus. O povo voltaria a ser unido na Terra como a Igreja e nos céus como a Noiva do Cordeiro.

Em João capítulo 17 encontramos os últimos desejos de Jesus antes deste ser levado à cruz, em sua oração O Messias exprime seu mais fundamental anseio. Ele queria uma igreja unida em Sua Pessoa. Uma igreja sem divisões e contendas, uma Igreja harmônica, solidária e fraterna. Uma Igreja que acolhesse as diferenças e se vinculasse exclusivamente a vontade de Deus. Uma igreja guiada pela Palavra e não por usos, costumes e interesses humanos. Os salvos agora estariam unidos de tal forma que seriam um só corpo, inseparável  a ponto de que a perda de qualquer membro gerasse dor e sofrimento. Esse corpo seria guiado pela cabeça que é Cristo, e embora distintos,  cada membro, cada órgão teria sua função no corpo, e nenhum seria melhor que o outro, seríamos apenas diferentes.

“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.” João 17:20-23

Amor ao próximo, compaixão, irmandade e humildade seriam as bases que levariam a igreja ao sucesso e a união. Precisamos entender que o avanço do reino é o propósito da unidade e por esta razão devemos promover a Deus e o Seu Reino ao invés de promovermos a nós mesmos! A concepção coletiva sempre é mais ampla, ao olharmos para direita ou esquerda precisamos enxergar nossa própria família e não rivais de célula ou denominação. Afinal, só existe um Reino, perpétuo e inabalável!

Urge observarmos ainda, que Jesus nunca impôs uma uniformidade, desde o início a igreja nunca foi uniforme, mas unida em Cristo. Vemos por exemplo, uma igreja petrina aos arredores de Jerusalém e Judéia, em sua maioria composta por judeus convertidos que ainda se circuncidavam e detinham restrições alimentares. Ao passo que espalhada pelas mais distantes províncias romanas e territórios gregos havia uma igreja paulina, composta por gentios, onde mulheres eram mais reconhecidas, como profetizas e diaconisas, por exemplo. Vemos uma igreja gentia onde os membros não praticavam a circuncisão e não tinham restrições alimentares.

Cada igreja nos tempos do Novo Testamento tinha sua carta ou parte dos manuscritos. Cada Igreja tinha sua autonomia e liturgia, e mesmo diante dessas diferenças o amor crescia, transbordava em cada uma delas. Só no livro do Apocalipse encontramos 7 igrejas e 7 cartas diferentes, onde Cristo respeitando as limitações e as particularidades de cada uma tratou-as de modo específico, muito embora ainda mantendo bênçãos coletivas à Igreja Unida.

Jesus sempre trabalhou com as individualidades humanas. Ele agiu em conjunto escolhendo 12 discípulos para que com eles unidos como uma família pudessem juntos propagar o evangelho.  Discípulos diferentes ao longo dos séculos geram naturalmente  denominações evangélicas distintas, as quais apesar de divergirem em pontos acessórios, se mantém unidas no principal, na verdade de que Jesus Cristo é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o nosso Deus, o Deus da Igreja em todo o universo.

Em dias de um mundo tão individualista e egocêntrico precisamos deixar o egoísmo de lado, fazendo com que nossas diferenças não sejam obstáculos a nossa consciência de que somos uma grande família de Deus. Chega de julgarmos tanto nossos irmãos ou de nos sentirmos superiores. Chega de guerrearmos contra irmãos com críticas e embates filosóficos, porque antes de bandeiras denominacionais devemos levantar nossa Bandeira Comum que é Jeová Nissi.

Somos todos irmãos, todos temos sobre nós o mesmo sangue, o sangue do Cordeiro. Verdadeiros irmãos são amigos e companheiros. Irmãos estão prontos para abraçar e estender as mãos, irmãos ouvem, irmãos compartilham, irmãos andam juntos, irmãos se amam ... 


Que possamos resgatar essa unidade que um dia nos fez tão fortes, já que antes de sermos protestantes, evangélicos, wesleyanos, batistas, assembleianos, metodistas, presbiterianos ... somos antes de tudo cristãos, somos Unidos em Cristo, e como um mesmo corpo, possamos dizer dia após dia uns aos outros  que eu preciso de você e você precisa de mim.

“Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro Eu de Apolo; porventura não sois carnais?” 1 Coríntios 3:3-4

‘Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; Seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso; E vós de Cristo, e Cristo de Deus.” 1 Coríntios 3:21-23

Que nosso senso de comunidade e coletividade inerente ao Reino sejam conexas às sábias palavras do Mestre Jesus “ Que eles sejam um, assim como nós somos um Pai ” ...


                                                                                                                      Eduardo Galdino de Souza

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