“E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve:
Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de
Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio
ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da
minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho
falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;
Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e
roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e
que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a
todos quanto amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e
bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com
ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no
meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse3:14-22
Antes de adentrarmos no tema, precisamos
esclarecer que embora a visão revelada ao apóstolo João tenha também conferido
uma mensagem direta a igreja física de Laodicéia, o texto na realidade
apresenta mais do que isso. Tal visão delineia um período histórico profético
futuro, representa a Igreja do século XXI, a igreja morna e rica da atualidade,
a igreja que antecederia a volta de Cristo.
Diferente das demais Igrejas da Ásia,
Laodicéia não recebeu nenhum elogio por parte de Jesus. Em suma, o tom da
mensagem constitui-se por uma repreensão, um conselho e uma promessa.
A cidade de Laodicéia ficava no vale do rio
Lico. Esta se situava na atual cidade de Denizli na Turquia, no cruzamento
entre as mais importantes rotas da Ásia Menor. Segundo historiadores, nos
tempos antigos, a água de Laodicéia provinha de grandes aquedutos das fontes
termais ao sul da cidade. Até chegar em Laodicéia a água ficava morna e sujeita
a determinadas impurezas. Ao longo do percurso a intensidade do sol e o
desgaste natural dos aquedutos acabava prejudicando a qualidade da água,
tornando-a muitas vezes inadequada para o consumo. Ao bebê-la ou ingeri-la
muitas pessoas vomitavam ou passavam mal pela pouca potabilidade.
Apesar disso, Laodicéia era uma cidade bem
desenvolvida, extremamente rica, ela possuía uma ótima infraestrutura para a
época, possuindo bancos, uma famosa escola de medicina que produzia o
requisitado pó oftamológico e manufaturas produtoras de reconhecidos tecidos
feito de lã.
Laodicéia passou por inúmeros terremotos
sendo reconstruída com recursos dos seus próprios habitantes, não necessitando
de nenhum subsídio imperial. Em Laodicéia havia um grande templo dedicado ao
pai dos deuses pagãos chamado Zeus, existiam teatros, obras esculturais
magníficas e importantes estradas comerciais que ligavam as províncias do
império Romano ao Oriente, por onde passavam inúmeras especiarias e circulavam
diversas riquezas.
Vale ressaltar que mesmo diante de tantos
recursos e glória a Igreja em Laodicéia foi firmemente repreendida pelo
Espírito Santo O Qual objetivava demonstrar que embora eles pensassem que já
tinham tudo, na verdade não possuíam nada.
Na profecia Jesus se identifica como o Amém,
afirmando que Ele é o Assim Seja de Deus, Ele é a palavra final, o Ômega do
universo e a afirmação da veracidade do Reino. Ele prossegue se intitulando de
a Testemunha Fiel e Verdadeira.
Ser fiel é ser leal com um amor que não teme
nem a própria morte. É por isso que a bíblia chama a Igreja de noiva, afinal,
em um casamento nós prometemos fidelidade até a morte. Em Apocalipse 2.10
" Sê fiel até a morte e dar-lhe-ei a coroa da vida ..." Cristo
relaciona a fidelidade a um amor incondicional.
Tendo dito isso fica evidente que Jesus é
Fiel porque Ele morreu por amor, morreu para que as promessas fossem cumpridas,
as profecias confirmadas e o plano de salvação efetivado. Jesus é Fiel porque
Nele nós temos garantia de todas as bênçãos de Deus! Na sequência, Cristo
Se define como a Testemunha Verdadeira, ou seja, o seu depoimento é totalmente
válido e real, Ele conhece tudo, sonda nossos corações e estaria disposto a
testemunhar no Tribunal Divino, expondo a vergonha de nossos delitos ou confirmando
a fidelidade de nossas obras.
Logo em seguida Jesus é chamado de o
Princípio da Criação de Deus, isto não significa que Ele foi o primeiro ser
criado como algumas seitas afirmam, afinal, Ele é Eterno e Preexistente a Tudo.
Tal expressão aduz ao fato de que Cristo é a fonte, a origem e o meio pelo qual
tudo foi criado. Jesus é o próprio Deus do Gênesis, Ele foi o verbo, a palavra
de ação que deu origem ao mundo. O Filho Unigênito estava querendo dizer que
assim como Ele criou todas a coisas, Ele poderia fazer nova a condição da
Igreja de Laodicéia, Ele poderia gerar uma nova história.
Colossenses 1:16-17 "...pois, nele,
foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades.
Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas
as coisas subsistem por Ele."
Ao analisarmos a expressão “...nem és frio,
nem quente” percebemos uma clara alusão à água da cidade, que chegava morna por
ficar exposta ao sol e causava aversão a quem tomava. Jeová deixa bem claro que
Ele prefere a oposição aberta e honesta ao apoio hipócrita. No caso dos
laodicenses, estava chegando a causar-lhe náuseas. Estes eram indiferentes, sem
ousadia, acomodados, sem entusiasmo, preguiçosos, sedentários espirituais,
sempre com uma desculpa para nada fazerem, para não se envolverem e para continuarem
parados. Causa nojo e repulsa a Deus o crente morno, o crente meio termo,
aquele que em uma vida dúbia acaba por negligenciar a verdade de que quem se
torna amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
Os cristãos de Laodicéia se achavam autossuficientes, bastavam a si, confiavam nas suas próprias capacidades, no seu intelecto, no seu talento e no seu dinheiro. Eles orgulhavam-se de dizer que não precisavam de nada, eram tão preocupados com o dia de amanhã, tão ocupados com o trabalho, tão sedentos por conquistar e acumular tesouros terrenos que se esqueciam da humildade e da simplicidade do evangelho. Ostentavam riquezas como se a prosperidade fosse um sinal da aprovação divina. Na verdade, a prosperidade é sinal tão somente da misericórdia de Deus, nada mais além disso. O erro deles não estava no fato de serem ricos ou prósperos, tendo em vista que ter uma vida de conforto, abundância, ser cabeça e não cauda e comer o melhor da terra é um dom e uma benção de Deus … O pecado daqueles crentes não era ter dinheiro, mas amá-lo, o erro não era ser próspero, mas fazer dessa prosperidade a motivação do seu viver.
Tal igreja considerava-se poderosa e
respeitável pelo seu grande templo e por seus dízimos altos. Contudo, a real
condição daquele povo era tão grave que ao final o próprio Senhor estava do
lado de fora de cada coração pedindo para entrar!
Os olhos de chama de Fogo de Cristo, os quais
não veem o exterior, ou a beleza do vestuário, a pompa, as mansões, o linguajar
rebuscado e culto, a inteligência, as contas nos bancos, e todas essas outras
coisas que nós valorizamos tanto, mas vê o coração, os chamou de pobres,
miseráveis, cegos e nus.
São mendigos porque não têm condições de
arcar com os custos da redenção, não tem como comprar o perdão de seus pecados.
São nus porque não tem vestes adequadas para se apresentarem diante de Deus.
São cegos porque não conseguem enxergar a sua pobreza espiritual.
Jesus em total humildade e amor os aconselha,
mostrando que a responsabilidade e a escolha de uma nova história dependia
inteiramente deles. Ele os orienta a comprar o ouro fino provado no fogo,
vestes brancas e colírio para os olhos.
O ouro simbolizava riqueza espiritual, onde
as imperfeições e impurezas seriam queimadas pelo fogo. Ter um ouro refinado
significa uma nova história, uma nova vida provada e aprovada pelo fogo do
poder de Deus, reluzente e brilhante.
As vestes brancas a fim de cobrir a vergonha
de uma vida espiritual deficiente falam de um novo vestir, um novo estilo de
vida, puro e santo.
O colírio produzido em Laodicéia para cura
oftamológica foi utilizado por Cristo em uma metáfora, onde ele aduz à
importância de uma visão espiritual do reino, cujos olhos estejam voltados para
o céu e não para as coisas deste mundo.
Note que em todos os casos Jesus usa a
expressão “comprar” e não simplesmente pegar. O significado disso reside no
fato de que essa transformação exigiria um preço, seria necessário sacrifício,
suor e renúncia, os quais seriam devidamente recompensados. Caso eles ousassem
ser corajosos e decidissem atentar para as palavras do Mestre teriam não apenas
prosperidade nesta vida efêmera, mas também uma prosperidade eterna que nada
nem ninguém poderiam destruir. Contudo, infelizmente, Laodicéia continuava
fechada dentro de si mesma, não evangelizavam, não pregavam a palavra. Estavam
presos dentro de seus próprios cultos individualistas e materialistas. Havia
louvores, ministrações, reuniões e em nenhuma destas Jesus estava.
Hoje, nós vivemos os dias de Laodicéia, onde
as igrejas se mantém fechadas em atividades internas, não investindo em missões
ou evangelismo urbano. Muitas igrejas egocêntricas as quais se trancaram para a
verdadeira revelação inventando seus próprios costumes, dogmas e doutrinas.
Quantas igrejas restringem a manifestação do Espírito Santo cerrando-lhe as
portas. E ainda que isso não seja uma vontade consciente, pouco a pouco elas
empurram Jesus para fora de suas histórias.
A igreja da “liberdade”, do formalismo,
cheia, numerosa, satisfeita e orgulhosa. Igreja morna, sem manifestação do
Espírito Santo, igreja flexível às vontades humanas. Igrejas com templos
magníficos, com gigantescas estruturas, a igreja dos pop star evangélicos que
cobram fortunas para pregar e cantar, igreja das disputas de poder e igreja
silente ao pecado.
A Igreja da presente Era, assim como muitos
em Laodicéia se sujeitavam aos costumes do deus Zeus da época, hoje se sujeita
a costumes do deus Mercado deste século. Igrejas que detêm o controle acionário
sobre canais de TV aberta, mas permitem em suas programações propagandas
ímpias, igreja cuja liderança exclui os simples, porém é conivente com os
crentes ricos da membresia. Igreja comercializadora de pano, água, sal,
sabonete, chave, perfume em troca de uma promessa de benção, como se tivéssemos
voltado aos tempos da venda de indulgências da Igreja Romana.
Igreja do relativo e da divisão, alienada
diante das perseguições sofridas por Esmirna e outros irmãos, igreja calada
diante do homossexualismo, silente quanto ao aborto e omissa na liberação da
maconha. Igreja que apoia, nas eleições, partidos comunistas e pessoas
corruptas, igrejas sem garra, que perderam os ideais pelos quais os apóstolos
lutaram e morreram! Quantos e quantas igrejas enganadas, louvando a um Cristo,
falando sobre um Jesus que a muito não está mais lá.
Ao final, Jesus traz uma mensagem de
esperança, em seu profundo amor Ele bate insistentemente no coração de cada
crente religioso a fim de que este verdadeiramente O receba para uma grande
Ceia de comunhão e festa no Reino.
Cristo termina o alerta com a maior promessa
dada entre todas as outras igrejas, Ele nos oferece a glória e a honra de nos
assentarmos com Ele no seu Trono diante das cortes angelicais. Na verdade, o
fim da revelação elenca o início de um futuro perfeito nos céus.
Que nós venhamos acordar porque
os dias de Laodicéia são mais atuais que o jornal de amanhã. Que a igreja
volte realmente a ser Igreja. Laodicéia, assim como muitas
denominações do presente século, não eram imorais nem hereges, apenas
eram mornos, deixando-se contaminar pelo
ambiente materialista deste mundo, e o pior, o levando para dentro da
igreja.
Eduardo Galdino de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário