terça-feira, 10 de junho de 2014

DIAS DE LAODICÉIA


“E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quanto amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse3:14-22

Antes de adentrarmos no tema, precisamos esclarecer que embora a visão revelada ao apóstolo João tenha também conferido uma mensagem direta a igreja física de Laodicéia, o texto na realidade apresenta mais do que isso. Tal visão delineia um período histórico profético futuro, representa a Igreja do século XXI, a igreja morna e rica da atualidade, a igreja que antecederia a volta de Cristo.

Diferente das demais Igrejas da Ásia, Laodicéia não recebeu nenhum elogio por parte de Jesus. Em suma, o tom da mensagem constitui-se por uma repreensão, um conselho e uma promessa.

A cidade de Laodicéia ficava no vale do rio Lico. Esta se situava na atual cidade de Denizli na Turquia, no cruzamento entre as mais importantes rotas da Ásia Menor. Segundo historiadores, nos tempos antigos, a água de Laodicéia provinha de grandes aquedutos das fontes termais ao sul da cidade. Até chegar em Laodicéia a água ficava morna e sujeita a determinadas impurezas. Ao longo do percurso a intensidade do sol e o desgaste natural dos aquedutos acabava prejudicando a qualidade da água, tornando-a muitas vezes inadequada para o consumo. Ao bebê-la ou ingeri-la muitas pessoas vomitavam ou passavam mal pela pouca potabilidade.

Apesar disso, Laodicéia era uma cidade bem desenvolvida, extremamente rica, ela possuía uma ótima infraestrutura para a época, possuindo bancos, uma famosa escola de medicina que produzia o requisitado pó oftamológico e manufaturas produtoras de reconhecidos tecidos feito de lã.

Laodicéia passou por inúmeros terremotos sendo reconstruída com recursos dos seus próprios habitantes, não necessitando de nenhum subsídio imperial. Em Laodicéia havia um grande templo dedicado ao pai dos deuses pagãos chamado Zeus, existiam teatros, obras esculturais magníficas e importantes estradas comerciais que ligavam as províncias do império Romano ao Oriente, por onde passavam inúmeras especiarias e circulavam diversas riquezas.

Vale ressaltar que mesmo diante de tantos recursos e glória a Igreja em Laodicéia foi firmemente repreendida pelo Espírito Santo O Qual objetivava demonstrar que embora eles pensassem que já tinham tudo, na verdade não possuíam nada.

Na profecia Jesus se identifica como o Amém, afirmando que Ele é o Assim Seja de Deus, Ele é a palavra final, o Ômega do universo e a afirmação da veracidade do Reino. Ele prossegue se intitulando de a Testemunha Fiel e Verdadeira.

Ser fiel é ser leal com um amor que não teme nem a própria morte. É por isso que a bíblia chama a Igreja de noiva, afinal, em um casamento nós prometemos fidelidade até a morte. Em Apocalipse 2.10 " Sê fiel até a morte e dar-lhe-ei a coroa da vida ..." Cristo relaciona a fidelidade a um amor incondicional.

Tendo dito isso fica evidente que Jesus é Fiel porque Ele morreu por amor, morreu para que as promessas fossem cumpridas, as profecias confirmadas e o plano de salvação efetivado. Jesus é Fiel porque Nele nós temos garantia de todas as bênçãos de Deus! Na sequência, Cristo Se define como a Testemunha Verdadeira, ou seja, o seu depoimento é totalmente válido e real, Ele conhece tudo, sonda nossos corações e estaria disposto a testemunhar no Tribunal Divino, expondo a vergonha de nossos delitos ou confirmando a fidelidade de nossas obras.

Logo em seguida Jesus é chamado de o Princípio da Criação de Deus, isto não significa que Ele foi o primeiro ser criado como algumas seitas afirmam, afinal, Ele é Eterno e Preexistente a Tudo. Tal expressão aduz ao fato de que Cristo é a fonte, a origem e o meio pelo qual tudo foi criado. Jesus é o próprio Deus do Gênesis, Ele foi o verbo, a palavra de ação que deu origem ao mundo. O Filho Unigênito estava querendo dizer que assim como Ele criou todas a coisas, Ele poderia fazer nova a condição da Igreja de Laodicéia, Ele poderia gerar uma nova história.

Colossenses 1:16-17 "...pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele."

Ao analisarmos a expressão “...nem és frio, nem quente” percebemos uma clara alusão à água da cidade, que chegava morna por ficar exposta ao sol e causava aversão a quem tomava. Jeová deixa bem claro que Ele prefere a oposição aberta e honesta ao apoio hipócrita. No caso dos laodicenses, estava chegando a causar-lhe náuseas. Estes eram indiferentes, sem ousadia, acomodados, sem entusiasmo, preguiçosos, sedentários espirituais, sempre com uma desculpa para nada fazerem, para não se envolverem e para continuarem parados. Causa nojo e repulsa a Deus o crente morno, o crente meio termo, aquele que em uma vida dúbia acaba por negligenciar a verdade de que quem se torna amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. 

Os cristãos de Laodicéia se achavam autossuficientes, bastavam a si, confiavam nas suas próprias capacidades, no seu intelecto, no seu talento e no seu dinheiro. Eles orgulhavam-se de dizer que não precisavam de nada, eram tão preocupados com o dia de amanhã, tão ocupados com o trabalho, tão sedentos por conquistar e acumular tesouros terrenos que se esqueciam da humildade e da simplicidade do evangelho. Ostentavam riquezas como se a prosperidade fosse um sinal da aprovação divina. Na verdade, a prosperidade é sinal tão somente da misericórdia de Deus, nada mais além disso. O erro deles não estava no fato de serem ricos ou prósperos, tendo em vista que ter uma vida de conforto, abundância, ser cabeça e não cauda e comer o melhor da terra é um dom e uma benção de Deus … O pecado daqueles crentes não era ter dinheiro, mas amá-lo, o erro não era ser próspero, mas fazer dessa prosperidade a motivação do seu viver.

Tal igreja considerava-se poderosa e respeitável pelo seu grande templo e por seus dízimos altos. Contudo, a real condição daquele povo era tão grave que ao final o próprio Senhor estava do lado de fora de cada coração pedindo para entrar!

Os olhos de chama de Fogo de Cristo, os quais não veem o exterior, ou a beleza do vestuário, a pompa, as mansões, o linguajar rebuscado e culto, a inteligência, as contas nos bancos, e todas essas outras coisas que nós valorizamos tanto, mas vê o coração, os chamou de pobres, miseráveis, cegos e nus.

São mendigos porque não têm condições de arcar com os custos da redenção, não tem como comprar o perdão de seus pecados. São nus porque não tem vestes adequadas para se apresentarem diante de Deus. São cegos porque não conseguem enxergar a sua pobreza espiritual.

Jesus em total humildade e amor os aconselha, mostrando que a responsabilidade e a escolha de uma nova história dependia inteiramente deles. Ele os orienta a comprar o ouro fino provado no fogo, vestes brancas e colírio para os olhos.

O ouro simbolizava riqueza espiritual, onde as imperfeições e impurezas seriam queimadas pelo fogo. Ter um ouro refinado significa uma nova história, uma nova vida provada e aprovada pelo fogo do poder de Deus, reluzente e brilhante.

As vestes brancas a fim de cobrir a vergonha de uma vida espiritual deficiente falam de um novo vestir, um novo estilo de vida, puro e santo. 

O colírio produzido em Laodicéia para cura oftamológica foi utilizado por Cristo em uma metáfora, onde ele aduz à importância de uma visão espiritual do reino, cujos olhos estejam voltados para o céu e não para as coisas deste mundo.

Note que em todos os casos Jesus usa a expressão “comprar” e não simplesmente pegar. O significado disso reside no fato de que essa transformação exigiria um preço, seria necessário sacrifício, suor e renúncia, os quais seriam devidamente recompensados. Caso eles ousassem ser corajosos e decidissem atentar para as palavras do Mestre teriam não apenas prosperidade nesta vida efêmera, mas também uma prosperidade eterna que nada nem ninguém poderiam destruir. Contudo, infelizmente, Laodicéia continuava fechada dentro de si mesma, não evangelizavam, não pregavam a palavra. Estavam presos dentro de seus próprios cultos individualistas e materialistas. Havia louvores, ministrações, reuniões e em nenhuma destas Jesus estava.

Hoje, nós vivemos os dias de Laodicéia, onde as igrejas se mantém fechadas em atividades internas, não investindo em missões ou evangelismo urbano. Muitas igrejas egocêntricas as quais se trancaram para a verdadeira revelação inventando seus próprios costumes, dogmas e doutrinas. Quantas igrejas restringem a manifestação do Espírito Santo cerrando-lhe as portas. E ainda que isso não seja uma vontade consciente, pouco a pouco elas empurram Jesus para fora de suas histórias.

A igreja da “liberdade”, do formalismo, cheia, numerosa, satisfeita e orgulhosa. Igreja morna, sem manifestação do Espírito Santo, igreja flexível às vontades humanas. Igrejas com templos magníficos, com gigantescas estruturas, a igreja dos pop star evangélicos que cobram fortunas para pregar e cantar, igreja das disputas de poder e igreja silente ao pecado.

A Igreja da presente Era, assim como muitos em Laodicéia se sujeitavam aos costumes do deus Zeus da época, hoje se sujeita a costumes do deus Mercado deste século. Igrejas que detêm o controle acionário sobre canais de TV aberta, mas permitem em suas programações propagandas ímpias, igreja cuja liderança exclui os simples, porém é conivente com os crentes ricos da membresia. Igreja comercializadora de pano, água, sal, sabonete, chave, perfume em troca de uma promessa de benção, como se tivéssemos voltado aos tempos da venda de indulgências da Igreja Romana.

Igreja do relativo e da divisão, alienada diante das perseguições sofridas por Esmirna e outros irmãos, igreja calada diante do homossexualismo, silente quanto ao aborto e omissa na liberação da maconha. Igreja que apoia, nas eleições, partidos comunistas e pessoas corruptas, igrejas sem garra, que perderam os ideais pelos quais os apóstolos lutaram e morreram! Quantos e quantas igrejas enganadas, louvando a um Cristo, falando sobre um Jesus que a muito não está mais lá.

Ao final, Jesus traz uma mensagem de esperança, em seu profundo amor Ele bate insistentemente no coração de cada crente religioso a fim de que este verdadeiramente O receba para uma grande Ceia de comunhão e festa no Reino.

Cristo termina o alerta com a maior promessa dada entre todas as outras igrejas, Ele nos oferece a glória e a honra de nos assentarmos com Ele no seu Trono diante das cortes angelicais. Na verdade, o fim da revelação elenca o início de um futuro perfeito nos céus.

Que nós venhamos acordar porque os dias de Laodicéia são mais atuais que o jornal de amanhã. Que a igreja volte realmente a ser Igreja. Laodicéia, assim como muitas denominações do presente século, não eram imorais nem hereges, apenas eram mornos, deixando-se contaminar pelo ambiente materialista deste mundo, e o pior, o levando para dentro da igreja.


Eduardo Galdino de Souza

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